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Fé conectada: festas religiosas ganham força no mundo digital

Por: Luany Leal e Vitória Regina.


De missas transmitidas ao vivo a aplicativos de oração, fiéis encontram novas formas de viver a religiosidade e manter tradições em tempos de internet.



As festas religiosas sempre foram momentos de encontro, fé e celebração coletiva. Procissões nas ruas, missas lotadas e cânticos comunitários marcam gerações. Mas, nos últimos anos, esse cenário ganhou uma nova dimensão: o digital. Transmissões online, lives, missas virtuais e aplicativos de oração se tornaram ferramentas que aproximam fiéis do sagrado mesmo à distância.


O altar agora cabe no celular

Hoje basta abrir o Youtube, Facebook ou o Instagram para acompanhar uma missa ou uma festa religiosa.

Um dos maiores exemplos desse alcance digital é o Rosário do Frei Gilson, transmitido diariamente e que reúne centenas de milhares de fiéis em oração online. As transmissões começaram como um ato de sacrifício pessoal durante a quaresma e rapidamente se tornaram um ponto de encontro espiritual para pessoas de todo o Brasil. As transmissões ultrapassam fronteiras e transformam a tela do celular em um espaço de encontro espiritual.

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Aplicativos de fé


Além de transmissões, os aplicativos religiosos ganham força. Plataformas com iBreviary, Rezando o evangelho e Hallow oferecem terços guiados, leituras bíblicas, áudios de meditação e até comunidades virtuais de oração.

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Conversamos com o jovem José Robert, fiel que acompanha as transmissões online para entender um pouco mais sobre essa proximidade da religiosidade com o mundo virtual. Ele nos contou o que levou ele a começar a acompanhar as missas e outras celebrações religiosas online. 


“ Após iniciar minha conversão no início deste ano, venho buscando alimentar o meu espírito para não deixar a minha fé diminuir. Nossa espiritualidade é como nosso corpo, se um dia deixarmos de comer só vamos sentir apenas fome, mas com o passar dos dias nosso corpo vai ficando fraco e acaba morrendo. Nossa fé é assim também, se deixarmos de alimentar nosso espírito, vamos acabar esfriando a fé até que em algum momento não creiamos em mais nada. Por isso sempre busco eventos religiosos, inclusive online, para manter a minha espiritualidade viva.” 

 

Ele também nos contou como é a sua experiência de fé durante uma transmisão ao vivo.


“A fé é um pouco complexa para explicar, porque depende de muitas coisas como situações, realizações (pessoais, conjugais) e dificuldades (também pessoais, familiares e conjugais). Por exemplo, se eu conquistar algo que eu sonhava, durante o rosário, o sentimento de felicidade e gratidão toma uma proporção enorme, como também quando estou passando por problemas, o sentimento de dependência de um ser maior que qualquer outro, um ser divino se torna o sentimento da vez. Outra experiência é quando fazemos do rosário um apelo por algo que desejamos.”

Para algumas pessoas somente as celebrações online bastam para exercer sua fé. Porém José Robert não pensa assim. Para ele as celebrações online funcionam apenas como um complemento, pois são momentos que não substituem a celebração em tempo real. 


“Voltando um pouco para a Santa Missa na Igreja, quando você assiste online você não consegue participar do momento mais especial da celebração que é a eucaristia, um dos principais fundamentos da fé cristã. Sendo o momento mais importante da missa onde Jesus se faz presente entre os cristãos em forma de pão e vinho que se transformam em carne e sangue do cordeiro através das mãos do Sacerdote onde ocorre o milagre da transubstanciação. Entre outros momentos como a benção com o óleo ungido, a oferta (apesar de algumas celebrações disponibilizarem a chave pix), a purificação com a água benta em celebrações em tempos de páscoa, enfim, são inúmeras formas que seriam impossíveis viver e participar apenas online.”


Pode existir também limitações com o uso das transmissões onlines, ele nos conta um pouco sua opinião sobre isso.


“Falar das limitações das celebrações online às presenciais nos remete a uma resposta anterior. Sendo a impossibilidade de confraternizar com outros fiéis, de receber a Sagrada Eucaristia na Santa Missa, receber as bênçãos com óleo e com água benta, o sacramento da confissão. Analisando o catecismo da igreja católica, a missa presencial no domingo é indispensável para o católico praticante, logo se torna pecado perder a missa aos domingos.”


As transmissões religiosas também podem despertar sentimentos que sentimos como se estivéssemos no ambiente o qual ocorre o evento religioso. Ele nos contou sobre um momento em uma transmissão online que o marcou de forma especial.


“O PHN, um acampamento católico que ocorre em São Paulo onde reúne mais de 200 mil fiéis. Durante o retiro acontecem pregações, shows católicos e várias dinâmicas. Dentre a mais diversa programação, o show do Frei Gilson foi surreal, transmitindo uma paz de espírito, se é que podemos dizer assim, foi algo transformador.


 A comunidade digital 

Nas transmissões online, a interação se dá de outra forma: chats ao vivo, pedidos de oração e emoji de ”mãos em prece” criam um ambiente de partilha. Para muitos fiéis, participar de uma festa religiosa no digital é também sentir-se pertencente a uma comunidade, mesmo sem estar fisicamente presente.

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Um exemplo é a festa de São José, que em várias cidades brasileiras foi transmitida em lives durante a pandemia e isso se prolongou ao decorrer do tempo. Imigrantes e pessoas que vivem longe das comunidades de origem puderam participar das celebrações sem sair de casa.


 Desafios e críticas

Embora o digital tenha permitido que a fé alcance um público cada vez maior, a experiência online apresenta limitações importantes. A ausência do contato físico, do abraço entre fiéis, dos cânticos em coro e da participação ativa nas procissões faz com que parte da vivência espiritual se perca. Muitos fiéis relatam sentir falta da energia coletiva, do ambiente da igreja e da sensação de pertencimento que só o encontro presencial pode oferecer. 


Além disso, nem todos têm acesso a uma conexão de qualidade ou a dispositivos capazes de acompanhar transmissões ao vivo, criando uma desigualdade digital dentro das comunidades religiosas. Outro desafio é manter o engajamento dos participantes: ao assistir à celebração de casa, distrações do dia a dia podem reduzir a concentração e o envolvimento nas práticas religiosas.


Há também a questão da adaptação litúrgica. Nem todos os rituais podem ser traduzidos com fidelidade para o formato digital, e algumas tradições perdem parte do seu simbolismo quando realizadas  apenas online. Por isso muitas paróquias buscam um equilíbrio entre o presencial e o virtual, criando experiências híbridas que combinam a proximidade física com o alcance das tecnologias digitais. 

Apesar dessas limitações, o digital é uma ferramenta poderosa para manter a fé viva, fortalecer comunidades e permitir que pessoas de diferentes lugares compartilhem a espiritualidade, mesmo à distância. O desafio é encontrar formas de unir tecnologia e tradição sem que uma substitua totalmente a outra.




 
 
 

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