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LINGUAGEM E IDENTIDADE CULTURAL: AS DUAS FACES DE UMA ÚNICA MOEDA

A linguagem como agente construtor da identidade cultural


Por Aucélia Ramos


Falamos por meio da nossa língua.  Verbalizamos os pensamentos e  executamos ações que nos guiam pela  busca de compreensão do mundo que  vivemos. Ações simples do nosso  cotidiano nos mostram como usamos a  língua como o “Bom dia” dito a nossos  colegas quando chegamos ao trabalho. 


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Imagem Freepik


A língua é fruto de um processo  histórico e social. Ela é um sistema social,  um código desenvolvido e utilizado para  a transmissão de pensamentos, ideias e  interações entre os indivíduos. É um sistema de comunicação aceito, convencionalmente, por toda a comunidade e, por isso, pertence ao  coletivo, a todos, e não apenas a cada  um individualmente. Como patrimônio  social, cultural esse sistema integra as  relações humanas, pois tem sido peça  básica na construção e transmissão do  conhecimento no decorrer da história da  humanidade. 



A linguagem humana é uma  característica singular que nos distingue  de outros modos de comunicação animal. Nos expressamos por meio  de gestos, palavras que dão sentido  às mensagens que queremos  transmitir. Modos simples da nossa vida como expressar sentimentos caracterizam o uso da linguagem efetivando a premissa de que a  comunicação humana é elemento  essencial para o estabelecimento de  interações entre as pessoas.


O papel da  linguagem vai além da transmissão de  informações, pois, quando trocamos  mensagens faladas ou escritas  construímos componentes vitais da vida  em sociedade dos quais podemos citar: a  identidade cultural, os valores, as  crenças e visões de mundo de uma  comunidade específica. O laço estabelecido entre a  linguagem, a cultura e a identidade evidenciam como vivenciamos as realidades e como compreendemos as  transformações sociais. A linguagem  auxilia na disseminação do patrimônio  cultural na medida em que por  diferentes modos de expressão construímos nossas experiências e o mundo ao nosso redor. 



LINGUAGEM E IDENTIDADE CULTURAL



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A identidade cultural é um conjunto  híbrido e maleável de elementos que  formam a cultura identitária de um povo,  ou seja, que fazem com que um povo se  reconheça enquanto agrupamento  cultural que se distingue dos outros.  Podemos citar como exemplo de  identidade cultural expressa pela linguagem o uso de cores na história da  humanidade.  


Segundo Heloísa Veroneze em artigo  publicado em agosto de 2024 no Jornal  da Fronteira “a cultura desempenha um  papel significativo na forma como percebemos e  interpretamos as cores”. O artigo  enfatiza que diferentes culturas ao redor  do mundo associam significados  distintos às cores como por exemplo, na  cultura ocidental, o branco é  frequentemente associado à pureza e ao  casamento, enquanto na cultura  oriental, pode estar ligado ao luto. A  evolução dessas associações culturais  reflete a maneira como as sociedades  atribuem significado as diversas linguagens com base  em contextos históricos, religiosos e  sociais.


A linguagem influencia nossas vidas sendo parte essencial da identidade cultural. Nossos costumes, tradições,  ritos são produzidos pelas formas como  damos significados ao mundo, pela  linguagem. Nos comunicamos quando  cantamos, rezamos, dançamos. A sensação de pertencimento a  grupos sociais e a diferentes  comunidades são reveladas no sotaque, na escolha de palavras, e  podem transmitir informações  importantes sobre nossa origem,  educação, religião e até status social.  Exemplo disso são as novelas da Rede  Globo que apresentam um estereótipo  do modo de falar do nordeste brasileiro  que acaba por homogeneizar como se  fala nessa região. 


A língua e a identidade cultural não devem ser idealizadas como elementos  homogeneizadores da sociedade.  Devem evidenciar o caráter múltiplo das culturas e das línguas ao redor do  mundo. Ao citarmos por exemplo a  novela “Cheias de Charme” exibida na  rede Globo no ano de 2012 observamos  que a personagem principal Chayene  apresenta o sotaque do Piauí de  maneira distinta da realidade o que  pode difundir uma ideia equivocada  sobre a identidade cultural do  nordeste. 



A linguagem e a cultura são faces de  uma mesma moeda: a da formação  humana dos povos que passam por  modificações, acréscimos e  enriquecimento contínuo, num processo  dinâmico e coletivo. O ser humano é um  ser cultural e social. Ao nascermos somos  inseridos numa cultura, num contexto  sócio-histórico, numa sociedade, na qual  se fala uma determinada língua e é através da língua que a cultura é  constituída e difundida, dando ao sujeito  acesso ao universo simbólico. 


A cultura molda as nuances da  língua, esta, por sua vez, solidifica e  transmite os valores e as tradições  culturais ao longo das gerações. Este  processo evidencia o papel central da  língua como mediadora de realidades culturais e como influenciadora na  percepção e construção da  realidade. São as duas faces de uma  mesma moeda: a formação identitária  de cada povo. 









 
 
 

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