LINGUAGEM E IDENTIDADE CULTURAL: AS DUAS FACES DE UMA ÚNICA MOEDA
- ruthycosta

- há 7 dias
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A linguagem como agente construtor da identidade cultural
Por Aucélia Ramos
Falamos por meio da nossa língua. Verbalizamos os pensamentos e executamos ações que nos guiam pela busca de compreensão do mundo que vivemos. Ações simples do nosso cotidiano nos mostram como usamos a língua como o “Bom dia” dito a nossos colegas quando chegamos ao trabalho.

Imagem Freepik
A língua é fruto de um processo histórico e social. Ela é um sistema social, um código desenvolvido e utilizado para a transmissão de pensamentos, ideias e interações entre os indivíduos. É um sistema de comunicação aceito, convencionalmente, por toda a comunidade e, por isso, pertence ao coletivo, a todos, e não apenas a cada um individualmente. Como patrimônio social, cultural esse sistema integra as relações humanas, pois tem sido peça básica na construção e transmissão do conhecimento no decorrer da história da humanidade.
A linguagem humana é uma característica singular que nos distingue de outros modos de comunicação animal. Nos expressamos por meio de gestos, palavras que dão sentido às mensagens que queremos transmitir. Modos simples da nossa vida como expressar sentimentos caracterizam o uso da linguagem efetivando a premissa de que a comunicação humana é elemento essencial para o estabelecimento de interações entre as pessoas.
O papel da linguagem vai além da transmissão de informações, pois, quando trocamos mensagens faladas ou escritas construímos componentes vitais da vida em sociedade dos quais podemos citar: a identidade cultural, os valores, as crenças e visões de mundo de uma comunidade específica. O laço estabelecido entre a linguagem, a cultura e a identidade evidenciam como vivenciamos as realidades e como compreendemos as transformações sociais. A linguagem auxilia na disseminação do patrimônio cultural na medida em que por diferentes modos de expressão construímos nossas experiências e o mundo ao nosso redor.
LINGUAGEM E IDENTIDADE CULTURAL

A identidade cultural é um conjunto híbrido e maleável de elementos que formam a cultura identitária de um povo, ou seja, que fazem com que um povo se reconheça enquanto agrupamento cultural que se distingue dos outros. Podemos citar como exemplo de identidade cultural expressa pela linguagem o uso de cores na história da humanidade.
Segundo Heloísa Veroneze em artigo publicado em agosto de 2024 no Jornal da Fronteira “a cultura desempenha um papel significativo na forma como percebemos e interpretamos as cores”. O artigo enfatiza que diferentes culturas ao redor do mundo associam significados distintos às cores como por exemplo, na cultura ocidental, o branco é frequentemente associado à pureza e ao casamento, enquanto na cultura oriental, pode estar ligado ao luto. A evolução dessas associações culturais reflete a maneira como as sociedades atribuem significado as diversas linguagens com base em contextos históricos, religiosos e sociais.
A linguagem influencia nossas vidas sendo parte essencial da identidade cultural. Nossos costumes, tradições, ritos são produzidos pelas formas como damos significados ao mundo, pela linguagem. Nos comunicamos quando cantamos, rezamos, dançamos. A sensação de pertencimento a grupos sociais e a diferentes comunidades são reveladas no sotaque, na escolha de palavras, e podem transmitir informações importantes sobre nossa origem, educação, religião e até status social. Exemplo disso são as novelas da Rede Globo que apresentam um estereótipo do modo de falar do nordeste brasileiro que acaba por homogeneizar como se fala nessa região.
A língua e a identidade cultural não devem ser idealizadas como elementos homogeneizadores da sociedade. Devem evidenciar o caráter múltiplo das culturas e das línguas ao redor do mundo. Ao citarmos por exemplo a novela “Cheias de Charme” exibida na rede Globo no ano de 2012 observamos que a personagem principal Chayene apresenta o sotaque do Piauí de maneira distinta da realidade o que pode difundir uma ideia equivocada sobre a identidade cultural do nordeste.
A linguagem e a cultura são faces de uma mesma moeda: a da formação humana dos povos que passam por modificações, acréscimos e enriquecimento contínuo, num processo dinâmico e coletivo. O ser humano é um ser cultural e social. Ao nascermos somos inseridos numa cultura, num contexto sócio-histórico, numa sociedade, na qual se fala uma determinada língua e é através da língua que a cultura é constituída e difundida, dando ao sujeito acesso ao universo simbólico.
A cultura molda as nuances da língua, esta, por sua vez, solidifica e transmite os valores e as tradições culturais ao longo das gerações. Este processo evidencia o papel central da língua como mediadora de realidades culturais e como influenciadora na percepção e construção da realidade. São as duas faces de uma mesma moeda: a formação identitária de cada povo.



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