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Pesquisadores catalogam tecnologias sociais no semiárido piauiense


A partir do uso de fotoetnografia, professores e discente do curso de Jornalismo da Uespi catalogaram tecnologias sociais usadas para convivência com a seca na comunidade Fornos, localizada na zona rural de Picos-PI.


O estudo foi realizado por meio do projeto de pesquisa “Fotoetnografia e semiárido: olhares jornalísticos sobre as tecnologias de convivência na comunidade Fornos em Picos-PI”, coordenado pelos professores Dr. Orlando Berti e Ma. Lana Krisna, com a participação da discente Rebeca da Silva Santos.


A comunidade tem se destacado com o uso de tecnologias sociais, garantindo a produção de frutas e hortaliças durante o período seco e chuvoso. As tecnologias chegaram até a comunidade a partir de programas federais, estaduais e organizações como a ASA Brasil e Cáritas Diocesana de Picos, através da Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Fornos e Pau D’arco, que engloba aproximadamente 100 famílias.

 

As tecnologias garantem a soberania, segurança alimentar e hídrica dos agricultores, também fomentam a geração de renda, visto que a produção de grãos e alimentos durante o ano é vendida a partir do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), levando alimentos orgânicos, livres de agrotóxicos para os alunos da  educação básica pública, além do  Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) que é operacionalizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), permitindo que a produção de feijão e milho seja vendida por meio da modalidade Compra com Doação Simultânea.

 

Casa de Sementes: construída a partir de recursos da Cáritas Diocesana de Picos em 2015, o espaço atua com o armazenamento e preservação de sementes não modificadas, originárias da região, também conhecidas como             sementes crioulas ou da paixão, garantindo o manejo e a conservação da biodiversidade a partir do cultivo de plantas semeadas há várias gerações. A sementes são cedidas aos agricultores que que integram a associação, após o cultivo, são devolvidas.

 

Casa de Sementes

Foto: Lana Krisna de Carvalho Morais (2023)

 

Sementes crioulas milho

Foto:Rebeca da Silva Santos (2024)

 

Os quintais produtivos também foram catalogados entre as tecnologias para o desenvolvimento do semiárido, a partir da irrigação por meio de cisternas de produção e reuso de água (tecnologias que serão apontadas mais adiante), as famílias da comunidade realizam o aproveitamento das frutas da estação, transformando-as em polpas para venda por meio do PNAE.

 

Durante os primeiros 15 dias do mês de março de 2024 a associação vendeu 500 quilos de acerola, 400 quilos de manga, 300 quilos de goiaba, 100 quilos de maracujá, além de 300 quilos de macaxeira entre os meses de fevereiro e março, as frutas são higienizadas, cortadas, empacotadas e resfriadas no espaço construído dentro da horta comunitária, a partir de recursos do projeto Viva o Semiárido em 2021.

Quintais produtivos

Foto: Rebeca da Silva Santos (2024)

Frutas e polpas armazenadas para distribuição

 Foto:Rebeca da Silva Santos (2024)


Para que a horta comunitária e os quintais produtivos garantam o cultivo das frutas e hortaliças, os agricultores contam com tecnologias para o armazenamento e reaproveitamento da água, dentre elas as cisternas de telhado, cisternas de calçadão e cisternas de enxurrada, além da tecnologia de reuso.

 

A cisterna de telhado foi construída no espaço da horta comunitária em 2021 pelo projeto Viva O Semiárido, a água da chuva é captada a partir do telhado do salão e direcionada para duas cisternas com capacidade de armazenamento de 52 mil litros cúbicos, cada.

 

A água armazenada é utilizada na irrigação das hortaliças durante todo ano, irrigação das árvores frutíferas durante o período não chuvoso. Quando os reservatórios secam, carros-pipa reabastecem as cisternas para que a produção seja continuada e a comunidade continue atendendo a demanda de alimentos produzidos.     A mesma tecnologia está presente nas residências dos agricultores, mas como cisternas de consumo humano e capacidade para 16 mil litros cúbicos. A água é captada a partir dos telhados das casas e direcionada para as cisternas, que, a partir do devido tratamento, passa ser usada na produção de alimentos e consumo dos moradores.

Cisternas de telhado na horta comunitária

Foto: Rebeca da Silva Santos (2024)

 

Horta comunitária irrigada a partir da cisterna com captação via telhado

Foto: Rebeca da Silva Santos (2024)

 

No espaço da horta comunitária também foi catalogada a cisterna calçadão, usada para irrigação das hortas e fruticultura, é resultado do programa P1+2 da ASA Brasil, que tem como objetivo “promover a soberania e a segurança alimentar e nutricional das famílias agricultoras e fomentar a geração de emprego e renda” (ASA Brasil, 2021, online) a partir de processos participativos voltados para o desenvolvimento dos territórios rurais semiáridos. Para captação de água é construído um calçadão com inclinação para que a água da chuva chegue até o reservatório.

 

Cisterna calçadão

Foto: Lana Krisna de Carvalho Morais (2023)

 

A cisterna de enxurrada, presente em residências da comunidade Fornos leva em consideração o caminho feito pela água durante o período chuvoso, que se transforma num processo de coleta e posteriormente decantação, armazenando-a num reservatório de 52 mil litros que fica coberto e enterrado. Assim como as demais tecnologias sociais de convivência com a seca, a cisterna de enxurrada só é construída com base no estudo da área, levando em conta as características e elevações do solo.

 

A última tecnologia social catalogada durante o trabalho fotoetnográfico foi o sistema de reuso de água, implantado em 31 residências de famílias que integram a associação entre os anos de 2020 e 2021 pelo projeto Viva O Semiárido. O sistema reaproveita a água utilizada nas atividades domésticas, que passa por uma caixa de gordura (também conhecido como caixa de passagem, que desengordura a água), seguindo por um filtro orgânico desenvolvido a base de seixo, brita, areia grossa e pó de madeira, em seguida é direcionada para caixa de água, que distribui a água através da irrigação de gotejamento frutas e algumas hortaliças específicas, evitando o desperdício de água.



Sistema de reuso da água doméstica

Foto: Rebeca da Silva Santos (2024)

 

A partir da associação, outros projetos fomentadores de tecnologias sociais estão em fase de implantação na comunidade, direcionados para o financiamento de hortas, avicultura, caprinocultura e suinocultura. Cada projeto ou tecnologia implantada passa pelo processo de diálogo com as famílias, compreendendo os desafios e necessidades, capacitando-os sobre o manejo, uso de defensivos naturais, processo de comercialização e difusão de conhecimento contextualizado com semiárido

 
 
 

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