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A REPRESENTAÇÃO DA FÉ CATÓLICA E EVANGÉLICA

Por Mary Pimentel e Yan Lima


O cruzeiro do Conjunto Petrônio Portela, no bairro Cohab em Picos-PI, nasceu como um marco da Semana Missionária Popular, realizada pela Diocese de Picos entre os dias 8 e 15 de novembro de 1998. Desde então, tornou-se um símbolo de fé e identidade comunitária, servindo de ponto de partida para procissões, via sacras e festas de padroeiro. Ao longo dos anos, famílias da região passaram a frequentar o espaço para rezar, acender velas em memória dos falecidos e zelar pelo local, especialmente nas celebrações de fim de ano, quando a tradição de orações se consolidou em torno do cruzeiro.

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Imagem de Arquivo Bernardete Carvalho


Com o tempo, a estrutura original sofreu desgaste e, em 2018, precisou ser reconstruída. A entrevistada Bernadete Carvalho recorda que, ao verificar a situação, percebeu que o cruzeiro estava tomado por cupins e com a madeira comprometida. “Mostrei uma madeira que tínhamos no quintal da minha mãe e, com a ajuda de todos, conseguimos reconstruir o cruzeiro em menos de três dias. Juntamos filhos, netos e vizinhos e fixamos a nova estrutura em um ponto mais acessível, fortalecendo ainda mais os momentos de oração.


A partir dessa renovação, a prática do terço se intensificou, principalmente após o falecimento de membros importantes da comunidade, como Zé Bae e Conceição de Bit. Desde 2022, a participação cresceu e as famílias passaram a se reunir com maior frequência, reforçando a religiosidade e o sentimento de pertencimento. Para Bernadete Carvalho, o cruzeiro representa muito mais do que um marco físico: é também um símbolo de fé, cultura e identidade. “Ele é um sinal visível de uma comunidade que participa. Celebrar é um ponto de partida, colocar-se em oração, pedir a intercessão de Nossa Senhora, agradecer pelas graças recebidas e pedir força na caminhada da vida cotidiana.”


Ela afirma sentir-se profundamente agradecida pela missão de preservar essa tradição na comunidade. “Sou grata a Deus por me colocar neste espaço, na Cohab, onde cada família, com suas peculiaridades, fortalece a fé por meio da devoção e do respeito mútuo.” Ao falar sobre a importância da preservação, Bernadete Carvalho reforça a necessidade de cuidar tanto do patrimônio material quanto do imaterial. “Desejo que cada vez mais os moradores sintam-se responsáveis e donos do patrimônio cultural, social e religioso, cuidando e aperfeiçoando sem perder a memória de ninguém.”


Para ela, a missa celebrada junto ao cruzeiro é o momento mais especial da vivência católica. “É o momento em que o Céu desce à terra, buscando corações abertos para receber Cristo, que veio, morreu e ressuscitou por amor à humanidade.” Assim, o cruzeiro do Conjunto Petrônio Portela, no bairro Cohab, permanece como um elo entre religiosidade, memória e identidade cultural, sendo reconhecido pela comunidade como um verdadeiro patrimônio imaterial que atravessa gerações.


Em Oeiras e Picos-PI, a fé se manifesta de muitas formas. Entre cânticos e terços, duas mulheres representam a força da religiosidade local e mostram como a fé - seja evangélica ou católica - molda identidades e comunidades. Há oito anos, Francilany da Silva deu os primeiros passos em sua caminhada cristã. Na época, sua vida era marcada por festas, roupas novas e noites de diversão, mas também por um vazio que parecia impossível de preencher. Mesmo cercada de amigos e música, ela conta que chorava ao chegar em casa. “Eu me sentia diferente das outras pessoas, como um peixe fora d’água. Nada fazia sentido”, relembra. A situação se agravou a ponto de ela pensar em desistir da própria vida. Foi então que uma amiga, companheira das festas, a convidou para conhecer a Igreja Mundial.

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Imagem de Arquivo Francilany da Silva

Na primeira visita, a experiência foi transformadora. “Foi como se Deus falasse comigo. Chorei muito e percebi que ele existe, que ouve e nos responde.” Desde então, Francilany da Silva passou a frequentar as reuniões, foi batizada e afirma ter renascido: “Minha vida mudou completamente. Abandonei o passado e descobri uma nova vida verdadeiramente ligada em Deus.”


Seis anos após o início de sua caminhada, veio um novo passo: o chamado para ser obreira. “Eu senti algo diferente em mim, e o pastor Adonai e Débora, irmãos da igreja, confirmaram que Deus tinha um propósito maior: eu seria obreira.” Mesmo enfrentando desafios entre a vida pessoal e o trabalho, ela aceitou. Hoje, já são dois anos dedicados ao trabalho como obreira na Igreja Mundial de Oeiras, experiência que descreve como transformadora.


No fim das pregações, os obreiros distribuem pequenos cadernos com folhas brancas, onde os fiéis registram seus pedidos. Esses cadernos devem manter a fé viva, de escrever aquilo que deseja que Deus realize naquele mês”, explica. Além disso, a unção com óleo é usada como símbolo de proteção contra o mal.


Os mesmos são levados a todos os cultos de domingo, para serem apresentados nas orações coletivas. “É uma forma de fortalecimento da fé.” Ao refletir sobre sua trajetória, ela deixa um conselho para mulheres que sentem o mesmo chamado: “Ser obreira é um privilégio. Quem recebe esse chamado deve aceitar, porque Deus tem planos maiores do que podemos imaginar. A caminhada pode ser puxada, mas é recompensadora.”


Nem sempre o caminho é fácil. Entre os desafios, Francilany da Silva recorda a virada de ano que passou longe da família. “É uma renúncia, mas compreendi que servir a Deus exige sacrifício.” Para a obreira, jovens e crianças têm papel essencial na continuidade da obra. “São o futuro da igreja. A escolinha é fundamental para que cresçam com fé.”


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Imagem de Arquivo Mary Pimentel


A vida de obreira exige dedicação constante. Além das reuniões, cultos e ações sociais, Francilany da Silva participa de práticas tradicionais da igreja. Entre elas, as orações realizadas nos montes - costume que remete à Bíblia, quando Jesus orava com seus fiéis. Como está escrito na Bíblia Sagrada, no livro de Lucas 22:39–46. Outra prática comum é a unção com azeite, passada como sinal de renovação espiritual. Feita sobre a cabeça dos fiéis como símbolo de proteção e bênção. Há também a chamada “porta das bênçãos”, pela qual passam como sinal de renovação espiritual.




 
 
 

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