Cansaço, fé e pé na estrada:estudante relata desafios de sua jornada diária
- JOAO MIKAEL DOS SANTOS LOPES
- 11 de nov. de 2024
- 5 min de leitura
Por Brenda Ester e Adão Matos

Viajando , diariamente, entre Ipiranga e Picos, Maicon Soares busca realizar o sonho de se formar em enfermagem, enfrentando desafios e ganhando força na educação.
Todos os dias, centenas de alunos enfrentam longas viagens entre suas cidades e a universidade em busca de um sonho: a formação acadêmica. Entre ônibus lotados, caronas solidárias e horas nas estradas, esses estudantes conciliam o cansaço da rotina de viagens com a pressão dos estudos.
Maicon Soares, de 23 anos e estudante do 8° período de enfermagem (o curso vai até o 10) vive uma verdadeira maratona. Natural de Ipiranga, uma pequena cidade no interior do Piauí, ele percorre diariamente cerca de 51 quilômetros para chegar à universidade, na capital do mel.
A rotina de Maicon começa bem antes de o sol nascer. Todos os dias, ele sai de Ipiranga, percorrendo cerca de uma hora até chegar ao campus da UESPI, em Picos. O tempo na estrada é longo e pode ser exaustivo, mas Maicon encontrou maneiras de tornar esta jornada mais suportável, onde ele tenta descansar na viagem ou desenvolver alguma atividade.
Assim como a história de Maicon, jovens que moram distantes de grandes centros, são obrigados a desbravar longas estradas para continuar seus estudos. O medo de iniciar uma nova fase na vida acadêmica e profissional, longe de casa, pode travar estes estudantes.
Para Maicon, essa insegurança se manifestou ao começar a faculdade em uma cidade diferente. A ansiedade pela recepção na universidade e a adaptação a um novo ambiente tornaram essa experiência desafiadora. Mas, esse temor também serviu como um impulso, motivando o estudante a enfrentar as incertezas e a buscar um futuro promissor na área da saúde.
Além da distância, se manter na UESPI e arcar com despesas financeiras também é um grande desafio. A UESPI fornece algumas bolsas e auxílios que são fundamentais para a permanência dos estudantes na universidade, mas nem todos os estudantes são contemplados.
Essa é a realidade de muitos outros estudantes que, como Maicon, carregam consigo as histórias de quem vive entre dois mundos: a tranquilidade do interior e o ritmo frenético da vida acadêmica. Em entrevista a nossa equipe, ele conta os desafios da jornada e como faz para tornar a rotina mais leve.

“Nada fácil presta, é
cansativo, é difícil, mas é uma experiência boa e no fim sempre somos recompensados".
BRENDA ESTER- O que te levou a vir estudar em Picos?
MAICON SOARES: Desde criança, (disse com alegria) sempre tive o sonho de ter uma boa profissão e alcançar o meu objetivo de ter uma graduação. Estudei e com muito esforço consegui passar para o curso de enfermagem aqui em Picos. Enfrentei a pandemia e tive dois períodos em EAD. Comecei o curso de forma presencial no ano de 2021, no 3° período.
BRENDA ESTER- Como foi sua chegada na universidade? Você se sentiu acolhido pelos professores e os estudantes?
MAICON SOARES: Como eu tive dois períodos online, graças a Deus tive um tempo e um certo contato com os professores e meus colegas de turma. Nada fácil presta, é cansativo, é difícil mas é uma experiência boa e no fim sempre somos recompensados. Construí amizades no EAD e, no campus, eu já conhecia algumas pessoas e eu me senti confortável, mas foi um pouco desafiador por ter medo e por ser a primeira experiência na universidade.
BRENDA ESTER- Como é a tua rotina até chegar na uespi e quanto tempo você leva para ir e vir?
MAICON SOARES: Acho minha rotina um pouco pesada. Não pela questão do acesso de vir e voltar por que com o tempo a gente se acostuma, mas no começo eu senti um grande impacto. Levo quase uma hora só para vir e, às vezes, era difícil chegar em casa e ainda ter que estudar. Estava cansado e, às vezes, eu queria era dormir (disse ele sorrindo). As minhas primeiras semanas foram difíceis, se eu tivesse uma prova na segunda para mim era perdido, porque eu queria descansar. O difícil também não chega nem estar aqui na uespi, o difícil é sair muito cedo. A aula começa as 08:00, mas temos que sair do Ipiranga 06:20 e chego na uespi às 07:30 e a volta é outro desafio, porque, às vezes, a aula termina 11:00 e temos que esperar o carro até as 13:00 e só chego em casa as 14:00 e agora com o bolsa trabalho tinha dias que saia de casa as 07:00 e só chegava 23:00. É questão de costume, mas, às vezes, ainda sinto um pouco do impacto.
BRENDA ESTER- Maicon, e você sente que isso afeta a sua rotina acadêmica?
MAICON SOARES: Muito! Tem dias que chego em casa com a cabeça estourando e ainda tenho coisa para estudar. Hoje mesmo, não tive aula e passei o dia estudando e devido o bolsa trabalho (benefício de assistência financeira para estudantes que auxiliam em atividades desenvolvidas na universidade) tive que vir agora à noite e sei que vou chegar em casa tarde hoje e ainda tenho estágio amanhã. (disse com o semblante cansado)
BRENDA ESTER- Como você lida com as despesas do transporte?
MAICON SOARES: Graças a Deus a universidade me ajudou muito, no começo eu não trabalhava, né? e minha mãe era quem sustentava o meu transporte e a minha comida e eu passei por auxílio alimentação e em seguida pelo bolsa trabalho, já ajudou bastante. O auxílio alimentação eu já destinava para o transporte (disse sorrindo) e a alimentação eu sempre trouxe de casa. Mas, meus dois (primeiros) períodos presenciais eram um pouco ruins, minha mãe era quem custeava tudo, mas depois das bolsas que eu consegui não tive mais essa preocupação.
BRENDA ESTER- Você desenvolve alguma estratégia para que sua rotina seja menos cansativa?
MAICON SOARES: Assim, eu procuro o máximo de manhã, dormir, venho a viagem dormindo pra conseguir descansar, tentar descansar na volta, ai, as vezes, estudo quando estou vindo, pra chegar em casa descansar mais um pouco.
BRENDA ESTER- Você já passou por alguma situação que te fez ter medo desse trajeto de ida e volta?
MAICON SOARES: Graças a Deus, pela questão do transporte, nunca passei por algum perigo, às vezes, a questão de chegar na hora, quando preciso pegar a van para chegar no estágio chego em cima da hora, e já teve professora que chegou a brigar por estar chegando em cima da hora, acho que pelo menos o nosso [transporte] não passa por dificuldade , mas uma vez a van chegou a quebrar na viagem que era um pouco longa e, às vezes, a van está lotada e tem aluno que vem em pé, e é quase uma hora vindo em pé (lembra preocupado).
BRENDA ESTER- E como você se vê quando terminar o curso? Quais são os seus planos futuros?
MAICON SOARES: Eu, depois que terminar a faculdade pretendo continuar nos meus estudos, (disse com brilho nos olhos) eu tenho os meus objetivos em mente, que é fazer um concurso de militar, tentar ser sargento na minha área, como enfermeiro ou a terceira opção que é fazer uma residência ou mestrado, eu já estou estudando para no próximo ano fazer um concurso.
Comentários