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O artesanato e cultura nos pés: as sandálias de couro produzidas por Antônio Sapateiro


O artesanato desempenha um papel significativo na preservação da cultura e reflete tradições culturais e técnicas que foram transmitidas ao longo de gerações, também traz o fomento do turismo, a sustentabilidade, promovendo a utilização responsável de recursos naturais, e o mais importante: a valorização do trabalho manual, ao reconhecer o valor e as habilidades tradicionais, o artesanato promove um senso de orgulho e identidade entre os artesãos.

A diversidade cultural é outro ponto forte, o artesanato contribui oferecendo uma ampla variedade de produtos únicos e expressões artísticas. Portanto, o artesanato não apenas enriquece a cultura, mas também tem um impacto econômico e social positivo para a nossa região. A produção das sandálias de couro é uma tradição cultural em várias regiões. Os artesãos seguem técnicas e estilos transmitidos ao longo de gerações, preservando assim a herança cultural e mantendo viva a identidade de suas comunidades.



Martelos, moldes, tesouras e outros itens fazem parte dos utensílios indispensáveis que ajudam a produzir uma identidade cultural nordestina, produto considerado como símbolo nordestino: as sandálias de couro. Feitas de couro conhecido como atanado, esse material é usado pelos artesãos por ser natural e menos prejudicial ao meio ambiente. Um ponto forte visível é a cor das sandálias, trazendo personalidade para a peça nordestina, a cor remete-se aos vaqueiros do nosso sertão, que complementam as cores das selas e chapéus, também usados nas vaquejadas.

Antônio de Moura Carvalho é um filho nato da cidade de Picos, nascido e criado aqui, tem quatros filhos, netos e bisneto, e aos 78 anos ainda exerce a sua profissão de sapateiro, não mais por obrigação ou necessidade, simplesmente faz o seu trabalho por amor e apreço. Antônio “Sapateiro” como é conhecido, conta que começou ainda muito novo, com 12 anos, trabalhava em uma oficina na semana e aos sábados montava seu pontinho na feira, aprendeu com seu pai e foi o único dos filhos que quis seguir a profissão, mantendo em pé o legado de uma geração para outra, criando toda a sua família por toda a sua vida, até hoje, somente com o fruto do seu negócio e com muitos clientes fiéis.

Antônio é o sapateiro mais antigo de Picos e o único que fabrica sandálias de couro. A profissão está cada dia mais escassa, mas são personagens como ele, que fazem esse trabalho continuar vivo em nossa valorização e cultura. Seu Antônio conserta e fabrica, ele produz chinelo de vaqueiro, sandália de rabicho e também trabalha no conserto dos mais variados tipos de sapatos. As sandálias e chinelos tem de todos os gostos e tamanhos, e de vários modelos que possam imaginar, masculino e feminino, os preços das sandálias e chinelos variam entre 40$ à 100$ reais.

Em seu ateliê, localizado próximo à feira livre da Rua Marcos Parente, Antônio recebe os visitantes e clientes com o bom humor e a amabilidade que lhe são características. O nosso personagem conta que tem clientes de todos os lugares, inclusive do Pernambuco e outros estados, as encomendas são feitas em grande quantidade, ou quando um cliente vem até o seu comércio, carrega toda a produção artesanal que estiver fabricada. A organização da produção baseia-se em produzir 10 sandálias por dia, cada uma leva em média 1 hora, e é feita totalmente à mão, a cada detalhe, exceto para o acabamento de polir que é realizado em uma máquina própria.

A escolha do material é composta por o couro de boi, bode ou carneiro, o sapateiro explica que o couro de boi é usado para fazer o solado, a qual dá a assistência e firmeza do solado e a parte de cima para maior conforto, é usada o material mais maleável, o de bode ou carneiro. O couro é escolhido por sua durabilidade, resistência e conforto. O material para a produção da sandália de couro é comprado na feira de Caruaru, no sertão do Pernambuco, geralmente feita de dois em dois meses. “Amo o que faço, é um divertimento e distração para a mente, e não fico só parado o dia todo dentro de casa” pontua ele.



As encomendas estão sempre em alta, agora no mês de junho o comércio de seu Antônio recebeu várias encomendas para a realização das festas juninas, principalmente das escolas do município que contam com a presença da quadrilha, a quadrilha é uma dança de representação folclórica e cênica de um casamento caipira e é uma das atrações mais esperadas dessas festas.

Ao adquirir peças feitas à mão, os compradores muitas vezes tem uma conexão pessoal com o artesão por trás da peça, sabendo que ela foi criada com amor e paixão. Ao ser questionado sobre a importância do seu trabalho para os picoenses, ele pontua “tem muito valor, pretendo continuar aqui até os meus últimos dias de vida, todos os meus clientes amam o meu trabalho, infelizmente não vou deixar o aprendizado para nenhum dos filhos ou netos, pois os mesmo tiveram um estudo melhor e optaram por seguir outros caminhos” conclui.

Personalidade, cultura e delicadeza nos pés, o trabalho de seu Antônio é repleto de representação social e totalmente artesanal, feito com carinho sem abrir mão da qualidade da produção, da beleza e do bem-estar. A beleza das peças é algo inquestionável, porque vem das mãos de quem é motivado por paixão ao seu trabalho e que preza pela história, costume, prática e memória do seu local há várias décadas. É um artesanato forte de Picos com detalhes que fortalecem a cultura.




 
 
 
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