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Os impactos do tempo de tela no desenvolvimento de crianças neuroatípicas

Por Adriana Reis

Entenda os riscos e benefícios da tecnologia no desenvolvimento infantil.

Foto: Adriana Reis
Foto: Adriana Reis

Estudos indicam que crianças neuroatípicas podem ser mais vulneráveis aos efeitos negativos do uso prolongado de telas, incluindo dificuldades de comunicação e isolamento social.


Embora os dispositivos eletrônicos possam ser ferramentas valiosas no desenvolvimento das crianças, proporcionando recursos educativos e lúdicos, seu uso excessivo e precoce levanta preocupações sérias. Enquanto por um lado contribuem positivamente como recurso interdisciplinar, facilitando o aprendizado e tornando o processo educacional mais envolvente, por outro, o uso exagerado pode levar a uma dependência digital e a uma série de problemas comportamentais, sociais e mentais.


Durante a primeira infância (zero a seis anos) e a segunda infância (sete a 12 anos), ocorre o desenvolvimento psicomotor, cognitivo e social das crianças. Esses períodos são cruciais, pois os estímulos, interações e experiências vividas desempenham um papel fundamental no desenvolvimento cerebral. Contudo, a introdução das telas na vida das crianças em idades cada vez mais precoces, é uma questão que necessita de uma discussão contínua e aprofundada. 


A expressão "tempo de tela" refere-se ao período que uma pessoa passa utilizando dispositivos eletrônicos com tela, como smartphones, computadores e televisões. Esse tempo pode incluir atividades variadas, como assistir a vídeos, jogar, navegar na internet, usar redes sociais ou fazer tarefas de trabalho e estudo. Para cada faixa etária, há recomendações específicas sobre o início adequado e a quantidade de tempo ideal de uso. Abaixo, veremos as orientações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) sobre a quantidade de tempo que crianças e adolescentes devem ou não passar em frente às telas.


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O IMPACTO DO USO DE TELAS EM CRIANÇAS NEUROATÍPICAS

Crianças neuroatípicas são aquelas que apresentam alterações no desenvolvimento neurológico, comportamental ou psiquiátrico. Isso inclui crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), dislexia, entre outros. Para algumas crianças neuroatípicas, limitar o uso de telas pode ser um desafio maior para os pais ou responsáveis. Essas crianças podem ter mais dificuldade em aceitar a restrição do uso de dispositivos eletrônicos, levando os pais a permitirem um tempo de tela mais longo para evitar conflitos.


Liara Santana, mãe do Otávio de 7 anos diagnosticado com TEA e TDAH, relata a dificuldade em controlar o tempo de tela de seu filho.

"Infelizmente ainda não consegui tirar as telas do Otávio, esse processo comecei várias vezes e sempre desisto. O tempo varia por dia. Ele usa sempre nas refeições, almoço e jantar. Só come se tiver o celular. Fim de semana estamos tirando. E sempre que saímos para outros ambientes, quando vejo que ele começa a se agitar ou ficar estressado, infelizmente eu dou o celular para ele. Então por dia deve ser umas 2 ou 3 horas (que o Otávio usa o celular)”, diz Liara.

Entre os principais efeitos negativos que o uso excessivo de telas pode ter na saúde física e emocional das crianças, a Psicopedagoga Clínica Alessandra Morais destaca a alteração no sono, incluindo dificuldades para dormir, insônia ou sono de má qualidade.

“A criança, às vezes, troca o dia pela noite, não tem hora para dormir, não tem hora para acordar e isso faz com que abra várias janelas que vem trazendo vários déficits como a irritabilidade, déficit de atenção, estresse e déficit de memória”, explica Alessandra.

Ela também destaca que o sedentarismo proporciona uma redução nas atividades físicas, levando ao ganho de peso, obesidade ou perda de condicionamento. A postura inadequada ao passar muito tempo usando dispositivos pode causar dores nas costas, pescoço e ombros, segundo Alexandra. Além disso, ela destaca que na saúde emocional e comportamental, há desinteresse por atividades, sintomas depressivos, ansiedade, agressividade e explosões emocionais.


Psicopedagoga Clínica Alessandra Morais. Foto: Adriana Reis.
Psicopedagoga Clínica Alessandra Morais. Foto: Adriana Reis.

  



  








ÁREAS MAIS AFETADAS NO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E SOCIAL

A Psicopedagoga Alessandra aponta as áreas mais afetadas. “No desenvolvimento cognitivo, principalmente nas funções executivas: a atenção, a concentração, memória, raciocínio lógico, percepção visual e controle inibitório. No desenvolvimento social: habilidade de interação social, empatia, regulação emocional, vínculos sociais. O uso excessivo de telas pode limitar o desenvolvimento de habilidades essenciais para o sucesso escolar”. 


ENTRE DESAFIOS, ROTINAS E CUIDADOS


Liara Santana e Otávio Santana. Foto: Fabio Lopes
Liara Santana e Otávio Santana. Foto: Fabio Lopes













Otávio foi diagnosticado com TEA e TDAH aos 1 ano e 11 meses. Sua mãe, Liara, explica como foi o processo do diagnóstico.

“Depois de uma queda da cama, levamos ao neuropediatra para avaliar se havia lesões na cabeça devido à queda, e saímos de lá com laudo para o transtorno do espectro autista. Para mim, como mãe não foi novidade, pois eu já sabia que ele tinha atraso em diversas funções para a idade dele, como (olhar fixo, aprendia coisas básicas e com o tempo não sabia mais, andar nas pontas dos pés), então esses foram alguns sinais que me deixaram em alerta para procurar auxílio e ajuda precoce. O maior desafio de fato foi quando recebi o papel com o diagnóstico, eu já sabia, mas não esperava e não queria que fosse verdade”, relembra ela.

Entre os desafios enfrentados até hoje pela família estão o preconceito das pessoas, a falta de conhecimento sobre o autismo e, principalmente, a escassez de profissionais para um tratamento adequado na cidade de Corrente, Piauí, onde residem. A rotina da família segue um padrão semanal estruturado para garantir que Otávio execute suas tarefas sem estresse.


“Com a rotina, ele executa as tarefas e não se estressa com facilidade. De manhã, vai para a escola e depois almoça. À tarde, ele tem terapia com a psicopedagoga Maiara às segundas e quintas; terapia no CorrenteEduca com Laís às terças e quartas; e aulas de reforço com a professora Telma de segunda a quinta, às 18 horas. Sexta-feira é a folga dele”, descreve.

Liara destaca que, mesmo sendo uma rotina cheia, é proveitosa. “Algumas adaptações em casa incluem quadro de rotina na parede da sala quando ele era mais novo, rotina do banheiro para usar o vaso, móveis mais altos e espaço para brincar. Na escola, ele tem o auxílio de um Acompanhante Terapêutico  (AT) exclusivamente para ele, que o acompanha nas atividades e oferece atividades adaptadas, além de um plano de atividade individual”, complementa.


O hiperfoco é uma característica comum em pessoas neuroatípicas, especialmente aqueles com TEA e TDAH. O termo se refere à capacidade de se concentrar intensamente em uma atividade ou assunto específico por um período prolongado. Em relação aos conteúdos que Otávio assiste, Liara explicou que ele tem hiperfoco em meios de transportes.

“Ele sempre vê desenhos relacionados a isso, como: Thomas o Trem, filme dos Carros e gosta bastante de Peppa Pig. É fascinado pelo barulho de locomotivas, sempre assiste a esse conteúdo no YouTube”, afirmou ela.


RECURSOS IMPORTANTES PARA O DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Os recursos para o desenvolvimento infantil das crianças neuroatípicas são cruciais para garantir seu bem-estar e progresso. Intervenções como terapias ocupacionais, fonoaudiológicas e psicopedagógicas são essenciais para desenvolver habilidades e melhorar a qualidade de vida. Ambientes educacionais inclusivos e Planos de Educação Individualizados (PEI) proporcionam suporte adicional, permitindo que essas crianças alcancem seu potencial máximo. Além disso, a estruturação de rotinas diárias, o suporte familiar ativo é fundamental.


Liara deixa algumas dicas para outras mães que têm filhos neuroatípicos que são muito importantes.

“O máximo de atendimento e esclarecimento sobre o assunto é válido. Conversar com outras mães e família sobre as crianças, Podcast Café com TEA, páginas do Instagram como: autismobr, autizando, autismolegal, prismas.associação. Temos profissionais de excelência em Corrente como Maiara psicopedagoga e Lais Psicopedagoga. Indico de olhos fechados”.

COMO USAR AS TELAS AO SEU FAVOR

À medida que as telas se tornam cada vez mais presentes em nossas vidas, é inegável que elas também oferecem recursos valiosos. Para utilizá-las a nosso favor, há estratégias que podem ser adotadas para garantir que o uso das telas contribua para o desenvolvimento equilibrado das crianças.


A psicopedagoga Alessandra destaca algumas estratégias, como a escolha de conteúdos apropriados, o estabelecimento de limites de tempo de tela, o acompanhamento do uso, o bloqueio de conteúdos inadequados e o foco na qualidade em vez da quantidade.


Liara afirma que, dependendo do conteúdo que seu filho está assistindo, ela acredita que o uso das telas pode ser benéfico para o desenvolvimento em algumas ocasiões.

“Vai depender do desenho, é uma via de duas mãos, é benéfica por um lado, pois ele aprendeu a falar em inglês sozinho, através dos desenhos no YouTube. A habilidade para aprender novas línguas é muito real com Otávio, então por esse lado é positivo”, conclui.


Dada a falta de uma rede de apoio para algumas mães, muitas vezes surge a necessidade de utilizar as telas como recurso para distrair seus filhos. A Psicopedagoga clínica Alessandra Morais oferece algumas dicas de como regular esse tempo de uso de uma maneira equilibrada.


 
 
 

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