TRANSPORTE COLETIVO DE PICOS: UMA CRISE QUE COLOCA VIDAS EM RISCO
- JOAO MIKAEL DOS SANTOS LOPES

- 20 de dez. de 2024
- 3 min de leitura
Por Riquelmo Miranda e João Gabriel Chaves
A cidade de Picos, conhecida como a “Capital do Mel” no Piauí, enfrenta uma realidade amarga quando o assunto é transporte coletivo. Além de carregar uma das tarifas mais caras do Brasil – R$ 5,00 para a passagem inteira e R$ 2,50 para estudantes –, a qualidade do serviço e as condições dos veículos tornam o trajeto diário de milhares de moradores um verdadeiro teste de resistência e paciência.
Ônibus sucateados, atrasos constantes e situações de perigo iminente fazem parte da rotina de quem depende desse meio de transporte para estudar, trabalhar ou acessar serviços básicos. Enquanto isso, a insatisfação da população cresce, como revelam os dados mais recentes de uma pesquisa local: 96,8% dos entrevistados classificam o transporte público da cidade como ‘péssimo’ ou ‘ruim’, e 87% já passaram por situações de risco dentro dos ônibus.

Estudantes enfrentam perigo constante
Ana Paula, estudante da UESPI, de 25 anos, é uma das muitas de estudantes que dependem do transporte coletivo em Picos para chegar à universidade. Todos os dias, ela percorre cerca de 11 km em estradas movimentadas e, muitas vezes, perigosas. A jovem relembra um episódio traumático que aconteceu em uma descida da serra.
“O pneu do ônibus estourou e o motorista perdeu o controle por alguns segundos. Foi um caos. As pessoas começaram a gritar, tinha gente chorando e até passando mal. Eu pensei que não ia voltar para casa naquele dia. Agora, toda vez que passo por aquele trecho, fico tensa, com medo que aconteça de novo,” relata Ana Paula

João Pedro Oliveira, 18 anos, compartilha do mesmo sentimento de insegurança. Estudante do IFPI na região, ele também percorre longas distâncias em ônibus lotados e precários.
“Os bancos estão rasgados, as janelas não abrem e o calor é insuportável. Os freios sempre fazem barulho, parece que vão falhar a qualquer momento. E quando acontece um problema, como pneu estourando ou falha no motor, ninguém se responsabiliza. A gente só ouve desculpas e segue arriscando a vida todo dia,” desabafa.
Trabalhadores também sofrem com o caos no transporte
Não são apenas os estudantes que enfrentam essas dificuldades. Dona Sandra Gomes, de 47 anos, trabalha como auxiliar de serviços gerais em um hospital da cidade e depende do transporte coletivo para percorrer cerca de 10 km todos os dias.
“O ônibus sempre atrasa, e quando chega, está lotado. A gente se aperta para entrar, muitas vezes fica de pé, segurando em qualquer lugar para não cair. É um sufoco. Já vi gente se machucar porque o motorista freou bruscamente. E, quando a gente reclama, dizem que é assim mesmo e que temos que aceitar,” conta Sandra, visivelmente indignada.
A trabalhadora também destaca o impacto no orçamento familiar. “O preço da passagem é um absurdo. Para quem ganha salário mínimo, como eu, isso pesa muito. Eu gasto quase R$ 200 por mês só com transporte. Imagina quem tem filho estudante, que também precisa pegar ônibus todo dia?” questiona.
Um sistema que não evolui
Apesar das constantes reclamações, o sistema de transporte público em Picos parece estar paralisado no tempo. Os veículos são antigos, frequentemente apresentam falhas mecânicas e não oferecem nenhuma acessibilidade para pessoas com deficiência. Além disso, a superlotação é uma realidade constante, especialmente nos horários de pico.

Números alarmantes
Um levantamento recente realizado por uma organização local aponta que:
96,8% dos entrevistados consideram o transporte público péssimo ou ruim;
87% já passaram por situações de risco, como falhas mecânicas graves ou acidentes;
Mais de 40% relataram atrasos frequentes, superiores a 30 minutos.
Esses dados refletem uma realidade que vai além do desconforto: o transporte público de Picos coloca em risco a segurança e a dignidade dos cidadãos.

Impactos na educação e no trabalho
A precariedade do transporte público tem efeitos diretos na qualidade de vida dos moradores. Estudantes relatam dificuldades para chegar às aulas no horário, o que prejudica o aprendizado. Trabalhadores enfrentam atrasos e estresse diário, comprometendo sua produtividade.
O que pode ser feito?
Especialistas do Sindicato do Transporte Público do Piauí destacam que a solução passa por uma combinação de medidas:
Renovação imediata da frota de ônibus, garantindo veículos modernos e seguros;
Fiscalização rigorosa das empresas responsáveis pelo transporte público;
Criação de subsídios para reduzir as tarifas, especialmente para estudantes e trabalhadores de baixa renda;
Implementação de alternativas, como transporte alternativo municipal ou ciclovias seguras.
Enquanto essas mudanças não chegam, a população de Picos continua refém de um sistema que não só pesa no bolso, mas também ameaça vidas. A pergunta que ecoa nas ruas da cidade é: até quando?
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