Você sabe o que é moda sustentável?
- JOAO MIKAEL DOS SANTOS LOPES

- 19 de dez. de 2024
- 5 min de leitura
Entenda esta iniciativa que está redefinindo o setor da moda e reduzindo seu impacto ambiental
Por Adriana Reis, aluna do 3° período de jornalismo pela UESPI, Picos
A moda sustentável conquista seu espaço à medida que consumidores e marcas se conscientizam dos problemas ambientais e sociais causados pela produção e consumo desenfreado. Ao adotar essa prática, surgem novas oportunidades para inovação e a implementação de métodos mais responsáveis e ecológicos.
Na indústria têxtil, as sobras de tecido e insumos dos resíduos de pré e pós-consumo, muitas vezes, são levados para lixões ou queimados. Este descarte inadequado contribui para a contaminação das águas e do ar, representando um grave impacto ambiental. A moda sustentável surge como uma resposta urgente para transformar práticas prejudiciais em um modelo de negócio mais ético e responsável.
O que é moda sustentável?
A moda sustentável, também conhecida como eco fashion, é a criação de roupas e acessórios sem prejudicar o ecossistema envolvido na cadeia de produção. Ela acontece com a utilização de materiais ecológicos com tecidos orgânicos, reciclados ou de baixo impacto ambiental, como algodão orgânico, bambu e tecidos reciclados.
Entre algumas práticas sustentáveis, destaca-se o upcycling, uma técnica que reutiliza materiais existentes. Segundo os autores Costa e Schneider em "Aprendizagem baseada em projeto: moda e sustentabilidade", o processo pode ser aplicado de várias formas na moda. Por exemplo, é possível criar roupas a partir de tecidos antigos, personalizar peças usadas ou utilizar sobras de materiais para novos designs. Transformando assim peças descartadas em produtos de maior valor agregado, permitindo sua reinserção no mercado.
O Papel do Consumidor
O consumidor desempenha um papel crucial no consumo sustentável. Desde a conscientização sobre a real necessidade de comprar novas roupas, até a prática de doar peças em bom estado ou vendê-las para brechós e bazares, há várias maneiras de promover um consumo mais consciente.
Debora Santos é consumidora de brechós e destaca a importância da sensibilização sobre o consumo responsável.
“Se a gente for pesquisar um pouco do ciclo das roupas, ver as montanhas de tecidos no Chile e o tempo que uma roupa de poliéster demora para se decompor, a gente acaba repensando o nosso consumo e buscando opções mais sustentáveis”, diz ela.
As lojas de brechó estão se tornando cada vez mais populares, encaixando-se em um modelo de consumo mais ecológico. Em vez de serem descartadas, as roupas podem ser revendidas, prolongando seu ciclo de vida e reduzindo o impacto ambiental.
Os brechós, além de serem uma fonte econômica de renda, também desempenham um papel significativo como ação social. Eles oferecem benefícios tanto para a comunidade quanto para o meio ambiente.
Dona Valdene, como consumidora e uma das sócias do Brechó Dona Bela Desapego, é um exemplo de como esses empreendimentos podem ter um impacto positivo, além do lucro econômico.
“Essas peças que uma pessoa jogaria fora, alguém vai fazer um bom uso delas, aquilo que não serve mais para mim, mas para você, tem um valor enorme. Eu gostaria de ter uma peça dessa e não tinha oportunidade de adquirir através de uma loja convencional. Até mesmo pelo valor, né? E quando chega aqui no Brechó, o valor cai muito e a gente oportuniza isso para que a pessoa tenha condição de comprar. Então, isso é moda sustentável”, explica ela.
“Eu gostaria de ter uma peça dessa e não tinha oportunidade... aqui no Brechó, o valor cai muito e a gente oportuniza isso para que a pessoa tenha condição de comprar”.
O que complementa com a fala da Debora. “Muitas vezes compro coisas de marcas que eu não tenho coragem de pagar o preço na loja e uso os brechós para pagar mais barato e economizar”.
Dona Bela Desapego: moda consciente em Picos

Em maio de 2024, fez três anos que dona Valdene, sua irmã Valmira e sua tia Maria da Paz (Paizinha) iniciaram um investimento pessoal que, no início, parecia apenas uma brincadeira entre família, mas que acabou dando certo.
“Foi na época da pandemia, e aí nós resolvemos. Não tinha nada para fazer, e nós reunimos a família e juntamos algumas peças e fizemos um bazar, na verdade foi um bazar. Aí na rua, no sábado, acontece a feira aqui, a gente fazia aí na calçada. Mas isso para a gente mesmo, sabe? E aí quando o primeiro foi um sucesso, o segundo também, aí a gente de repente despertou para a ideia de abrir um brechó”, relembra dona Valdene.
Ela explica que sua tia Maria da Paz já tinha a ideia de fazer um brechó, só que de um jeito diferente de como elas fizeram. Ao pensarem, as três sócias juntas decidiram fazer do modelo consignando.
“Nós trabalhamos aqui com parcerias. As parcerias trazem as peças, elas desapegam daquilo que não quer mais, traz até aqui, nós avaliamos, precificamos, e aí depois a gente entra em contato com a dona das peças, se ela autorizar, a gente faz o cadastro e aí coloca à venda. Do que a gente vende, nós pagamos uma porcentagem daquilo que vendemos. Então, todo mês a gente faz o balanço do que foi vendido e paga para as parcerias das roupas”, conclui ela.
Dona Valdene explica que um dos grandes desafios que elas enfrentam é a quantidade de peças que recebem. Embora muitas peças sejam vendidas, outras tantas continuam chegando, o que gera um problema de espaço na loja.
Além da loja física, elas também administram uma página online da loja no Instagram, chamada donabela_desapego, e utilizam um programa de rádio aos domingos pela manhã como outra forma de divulgação. Elas pensam em crescer, destacando que quando isso acontecer, elas já têm em mente que precisarão mudar o ponto onde estão instaladas.
O impacto social e ambiental da compra de roupas de segunda mão
Ao consumirmos roupas de segunda mão ainda em bom estado, estamos promovendo não só a sustentabilidade, mas também apoiando o empreendedorismo social. Debora explica seu ponto de vista sobre o impacto social e ambiental dessa prática.
“Como impacto social eu vejo como um bom negócio principalmente por gerar renda e autonomia para mulheres. Como ambiental eu vejo um impacto pequeno. Mas tem pesquisas que mostram um crescimento do setor e isso pode ser o início de um impacto maior. No Japão, tem brechós em todo lugar, shoppings, metrô, centro de compras, talvez um dia aqui seja assim”, conclui ela.
Somos consumistas por natureza. Nem sempre é fácil controlar o desejo de comprar mais uma peça para compor nosso guarda-roupa. Adotar um consumo consciente é uma forma de contribuir para um mundo mais justo e sustentável. Mesmo ao comprar em brechós, bazares ou lojas convencionais, é essencial refletir sobre a real necessidade daquele produto.




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